Charles Dickens: A construção e ascensão de um herói

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Um Conto de Natal, no original A Christmas Carol, é um conto do escritor britânico Charles Dickens, que é, certamente, uma das histórias mais difundidas da literatura ocidental. 

O enredo da história nos trás a persona de Scrooge, um rabugento homem de negócios londrino, que o próprio Dickens descreve como sovina e solitário, que não demonstra nenhum tipo de bons sentimentos ou compaixão pelos outros. Jamais deixou que ninguém rompesse sua carapaça sólida e preocupa-se apenas com os seus lucros. Mas as coisas começam a ganhar outras formas quando, em uma gélida noite de inverno, ele é visitado pelo fantasma de um um antigo amigo, Marley, que fora seu sócio no passado, morto já há algum tempo. E é exatamente a partir desse momento que a vida de Scrooge muda completamente.

Um dos pontos mais interessantes em relação a esse conto, é o modo em como e as circunstancias nas quais ele fora escrito. Dickens a terminou no meado do século XIX, no ano de 1843, para ser mais específico, para ser publicada em capítulos no jornal local. O conto recebeu ilustrações de John Leech no final daquele mesmo ano, em um versão definitiva.
Uma das coisas que mais me cativou nessa história é que se torna muito familiar a todas as pessoas, já tendo sido filmado inúmeras vezes, televisionado, adaptado para o teatro, para as crianças, transformado em desenho animado e até em histórias em quadrinhos. Podemos até dizer que o personagem possui alguns descendentes literários e vários outros inspirados no mesmo, sendo o mais conhecido entre eles o personagem original de Walt Disney, Tio Patinhas, que recebeu não só uma história baseada na obra de Dickens, mas também o nome, que no original é Uncle Scrooge.

Nós podemos dizer que, as aventuras de Scrooge, é a história mais conhecida de Dickens, sendo assim, também podemos dizer que ele é o autor mais conhecido entre os romancistas do mundo inteiro, e que, na história da literatura ocidental, foram poucos os autores que gozaram de tantos prestígios entre seus leitores e seus admiradores.

Charles Dickens nasceu no período da regência georgiana, mas foi só no período vitoriano que se tornou a maior e a mais alta figura de referencia cultural. Uma curiosidade importante de ser abordada aqui, é que, em meio a uma Inglaterra militante e comercialmente potente, os reflexos da Revolução Industrial penetravam no dia a dia das pessoas. Na época do livre-comércio e ferrovias, a taxa de analfabetismo nunca foi tão baixa, as pessoas sentiam necessidade de consumir o jornal, que era o único e principal meio de comunicação em massa, já que o mundo ainda não conhecia a existência da televisão e do rádio. Um fato da época, é de que os livros eram artefatos de luxo, e direcionados a classe alta, mas os jornais não, e quase sempre vinham com algum romance folhetim, com publicações semanais ou mensais - e que as vezes vinham até ilustradas com desenhos. Em uma época em que as cidades estavam se expandindo rapidamente, as pessoas paravam de falar sobre a vida uma das outras, e começavam a especular sobre os personagens folhetinescos, e sobre seus destinos, e de fato os de Dickens eram os preferidos dos cidadãos ingleses.
Um outro fato que não podemos deixar passar é que, de fato, a literatura de Dickens só obteve êxito na sua época, por que os homens de poder, todos gostavam de como o romancista mostrava o mundo, na sua totalidade, cru. Dickens desfrutava das maravilhas do mundo moderno, deveras, e do capitalismo nascente, das quais ele mesmo usufruiu, pois, nascido em uma família miserável, assim dizer, teve que galgar sua carreira como jornalista até o topo, coisa que só foi possível por causa da elasticidade da sociedade moderna, mas jamais deixou de mostras as chagas deste mesmo mundo no qual vivia.

Dickens sempre se mostrou uma pessoa preocupada com aquela realidade latente em meio a uma Inglaterra potente, e padecendo-se dos velhos, dos órfãs desamparados, das crianças desumanamente empregadas nas indústrias, assim vertendo-se aos inúmeros chefes de famílias desempregados. Ele usava sua literatura para lamentar-se sobre a simplicidade e a inocência perdida e, de modo engajado e edificante até, tentou amenizar todo aquele sofrimento, trazendo a tona os melhores sentimentos das pessoas, sem nunca deixar de lado o entretenimento. Que afinal de contas, era o grande requisito.

Dickens esteve entre os primeiros, não só romancistas, a detectar os males da sociedade moderna, ainda mais se tratando da tão poderosa Inglaterra vitoriana, e Scrooge com a sua ganância pelo lucro, é o maior símbolo de toda a crueldade do capitalismo selvagem. Deste modo, onde houver sentimentos de solidariedade para com os excluídos, amor às reuniões familiares, vontade de congregação entre as pessoas, Um Conto de Natal continuará sendo atual. E Dickens continuará sendo eterno.

Texto inspirado em Um Conto de Natal, introdução.

~ Vitor Iury Neves

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